Em 2008, o tema da nossa campanha eleitoral era “Icatu Livre”. Assim que assumimos a prefeitura, nós começamos a trabalhar a questão da democracia. Apesar de o Brasil viver o processo democrático, o nosso povo era acostumado com a opressão do governante.
A minha primeira dificuldade foi quando reuni os companheiros e cada um queria colocar os adversários para os mais diferentes lugares do município como uma forma de os penalizar conforme a cultura política da época. Eu bati contra e disse que essa não era a forma que colocamos para a opinião pública durante a campanha e que nós tínhamos que respeitar o que tínhamos dito em praça pública.
Esse foi meu primeiro problema no governo, justamente com os amigos, com o grupo que participou do nosso lado. Não penalizei ninguém e isso criou uma série de dificuldades para mim em relação ao grupo, mas, por outro lado, nós ganhamos em relação à população. Ganhamos a primeira eleição com apenas 39% dos votos, portanto nós tínhamos 61% das pessoas contra a gente; para o segundo mandato ganhamos a eleição com 64% dos votos. Isso mostra que nós trouxemos uma boa quantidade de pessoas do outro lado.
1º movimento reivindicatório dos professores
O município começou a se organizar em todos as áreas, e os professores, com um nível de consciência maior, foram os primeiros a se organizar, criando o seu sindicato. Dentro do processo organizacional fizeram uma greve e, de uma forma justa, como gestor municipal, fomos para o diálogo. No encontro público que tivemos, os líderes do movimento falaram da minha história, da forma como eu conduzi o movimento social, como presidente do Sindicato dos Médicos durante dois mandatos, também como presidente do Diretório Acadêmico da Universidade Estadual do Maranhão, onde fui também presidente do DCE.
Fui forjado no movimento social do povo maranhense e quando eu chegasse ao governo automaticamente teria uma atitude de receber os grevistas, discutir com eles, garantir um encaminhamento das questões. Foi isso que ocorreu e estou muito à vontade, pois esse é um sinal de que o município está crescendo, está evoluindo, de que as pessoas estão tomando conhecimento do seu papel.
Os conselhos municipais e a governança
Dentro desse novo ambiente de democracia participativa, os conselhos municipais estão tendo muita liberdade para a discussão, e muitas vezes os secretários ficam um pouco chateados comigo porque dou muita abertura aos conselhos. Eu digo que governo com os conselhos, os conselhos são os meus olhos, que é uma de se ter a transparência administrativa, e também de desenvolver a governança. A governança nos tempos de hoje perpassa pela articulação entre o poder público e o poder da sociedade civil organizada para combater o capitalismo. Essa é uma nova forma de governar, recomendada pela Organização das Nações Unidas, que faz parte da sustentabilidade planetária. Se todos os povos se articularem e discutirem a governança, o impacto do poder econômico nos povos diminuirá.
Icatu começa a ser um celeiro de debates, e alguns conselhos já começam a fazer a sua política pública diretamente com as secretarias. A Assistência Social, por exemplo, já está fazendo isso, o secretário Junião está tendo essa visão de trabalhar a política pública juntamente com os conselhos.
Determinei ao secretário de Assistência Social que os conselhos precisam ser treinados pela Assistência para a política social e ter um treinamento específico em cada secretaria para que se tenha um conhecimento pleno daquilo que se está fazendo. Um conselheiro da Assistência, que não sabe, por exemplo, o que é o SUAS, um conselheiro da Saúde que não souber o que é o SUS, um conselheiro da Educação que não souber o que é o Fundeb, não pode ser conselheiro. É fundamental, portanto, que cada conselho tenha o conhecimento específico da sua área e um treinamento na área específica social, para que dessa forma ele possa construir a governança e diminuir os impactos do capitalismo entre nós.